Por Maristela Girotto
Comunicação CFC
A reunião plenária ordinária do Conselho Federal de Contabilidade desta sexta-feira (18) contou com a participação de Idésio Coelho, contador brasileiro que faz parte do Conselho de Administração da Federação Internacional de Contabilidade (Ifac, na sigla em inglês). Atuando pela contabilidade do País no board da entidade que representa os contadores de mais de 130 nações, Coelho trouxe, aos conselheiros do CFC, um balanço do trabalho que está realizando na Ifac.
Idésio Coelho, presidente do Ibracon
Os principais temas em discussão na Federação Internacional de Contadores, que poderão trazer impactos à contabilidade brasileira, foram pauta da apresentação de Idésio Coelho na Plenária do CFC.
No Brasil, as duas entidades da área contábil que são membros da Ifac são o Conselho Federal de Contabilidade e o Instituto dos Auditores Independentes (Ibracon), que é presidido atualmente por Idésio Coelho.
A Federação Internacional de Contadores é uma organização que tem por missão atender ao interesse público e fortalecer a profissão contábil. Os principais eixos da atuação da Ifac são o apoio ao desenvolvimento de normas internacionais de alta qualidade; a promoção da adoção e implementação desses padrões normativos nos diversos países do mundo; o fortalecimento das organizações profissionais da área; e a participação em questões de interesse público.
Para o Conselho Federal de Contabilidade, ser entidade membro da Ifac significa manter o Brasil atualizado quanto às tendências da profissão contábil; participar do processo de edição das normas internacionais de contabilidade e, conforme a conveniência e a oportunidade, convergir as Normas Brasileiras de Contabilidade (NBCs) ao padrão internacional; e interagir com entidades mundiais em programas técnicos e científicos da área para compartilhar conhecimentos.
Idésio Coelho e o presidente do CFC, José Martonio Alves Coelho
Na entrevista a seguir, Idésio Coelho fala sobre o seu trabalho na Ifac e os principais temas em discussão na Federação; defende a participação brasileira em organismos internacionais; e ainda, expõe dados de uma pesquisa sobre o Novo Relatório do Auditor, adotado no Brasil este ano.
CFC - Qual o balanço que o Sr. faz do seu primeiro ano na Ifac?
Idésio Coelho – Fui eleito membro do Conselho de Administração da Ifac em novembro de 2016 para o período de 2016 a 2019, ou seja, tenho praticamente sete meses de atuação na Ifac. Minha nomeação contou com o apoio do Conselho Federal de Contabilidade e do Ibracon – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil e busca representar as organizações contábeis da América Latina e Caribe.
Apesar do pequeno espaço de tempo, o balanço é bastante positivo, pois assumimos com o intuito de levar a voz do Brasil e da América Latina ao Conselho de Administração (Board) da Ifac, fazendo com que os nossos pleitos sejam ouvidos e quando apropriados, considerados no processo decisório da adoção e implantação das normas de auditoria, éticas, de educação e de contabilidade aplicadas ao setor público.
Divulgamos na Ifac todo o trabalho do CFC e do Ibracon no apoio ao profissional da Contabilidade e à melhoria da coisa pública, seja no conceito da ética quanto da eficiência.
No campo da contabilidade aplicada ao setor público, divulgamos o estágio do processo de adoção das normas no Brasil e incentivamos que outros países também adotem essas normas que proporcionam maior transparência e qualidade.
Explicamos o processo de adoção de algumas normas de auditoria no Brasil, notadamente a norma que trata do Novo Relatório do Auditor e divulgamos, como resultado de sua adoção no primeiro ano, uma pesquisa inédita sobre as principais constatações. Pesquisa essa que teve ampla cobertura nacional e internacional.
Divulgamos também a ótima interação que temos no Brasil como os órgãos de controle e demais reguladores, destacando as vantagens de tal interação, incentivando assim que outros também o façam.
Destaco também que fui convidado para representar o Brasil e a própria Ifac no Fórum CReCER, realizado em Junho de 2017, e promovido pela IFAC, Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), firmas de auditoria e outros apoiadores relevantes e, também, na 32ª Conferência Interamericana de Contabilidade que será realizada em Lima, no Peru, em Outubro de 2017, pela Associação Interamericana de Contabilidade (AIC).
Também ressalto os nossos esforços para a identificação na região de candidatos do sexo feminino e que ocupem posições em Firmas de Auditoria de Pequeno e Médio Portes (FAPMP) para participarem dos Boards da Ifac. Nosso esforço foi extremamente valorizado no sentido de trabalhar para a igualdade de oportunidades em todas as áreas de nossa atuação.
CFC - Na agenda da Ifac para 2017 e os próximos anos, quais são os temas que poderão trazer maiores impactos na contabilidade brasileira?
Idésio Coelho – Está na agenda da Ifac a contínua valorização da classe contábil, pois se acredita que, em assim fazendo, defendemos o interesse público. Nesse contexto, a Ifac incentiva o desenvolvimento de normas que tratam da educação continuada dos profissionais da Contabilidade para que eles sejam agentes influenciadores de um mundo de negócios mais ético, justo e eficiente.
No campo das mudanças tecnológicas, que tais transformações sejam bem entendidas e venham para valorizar ainda mais o trabalho do profissional da Contabilidade e das organizações que atuam na prestação de serviços de contabilidade e auditoria, nos setores público e privado.
Na busca da construção de um mundo melhor e mais ético, ações que reduzam atos de corrupção e lavagem de dinheiro, atos ilegais e planejamentos tributários artificiais e agressivos têm estado na agenda da Ifac e são totalmente aplicáveis à situação atual do nosso país. Os profissionais da Contabilidade no Brasil têm apoiado inúmeras ações que visam à melhoria do ambiente ético em todas as esferas.
O apoio ao desenvolvimento de normas de elevada qualidade tem sido o norte da atuação da Ifac. Nesse sentido, a divulgação da adoção das Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (Ipsas) tem ocupado a agenda da Ifac nos últimos anos. O progresso da adoção da contabilidade aplicável ao setor público no Brasil tem sido uma realidade visando ao aumento da transparência e a melhoria da gestão da coisa pública, tão essenciais para a sociedade brasileira.
Outras ações também relevantes, totalmente alinhadas com a agenda brasileira da contabilidade, incluem: (i) o apoio ao pequeno e médio negócio com propulsor do desenvolvimento sustentável, regional e global, (ii) o aumento do ceticismo profissional na preparação e auditoria das informações contábeis, (iii) um programa de educação continuada a todos os profissionais da Contabilidade, e (iv) a revisão do Código de Ética do Profissional da Contabilidade, incluindo a adoção da norma que trata da resposta ao descumprimento de leis e regulamentos (NOCLAR).
CFC - Quais têm sido os destaques da atuação da Ifac no mundo?
Idésio Coelho – A busca incessante em atender ao interesse público tem sido a área de maior ênfase da Ifac. Nesse ambiente, acredita a Ifac que somente com a valorização da classe contábil o interesse público pode ser atingido. Ao valorizar o profissional da Contabilidade, incentivamos a preparação de informações contábeis de alta qualidade e transparência, para que as empresas prosperem, gerem empregos, impostos e oportunidades para todos.
Outra área de destaque tem sido a luta contra a corrupção, a melhoria da gestão da coisa pública e as transformações tecnológicas que vieram para modificar e transformar as relações, formas de aprendizado, geração de riquezas, remuneração e atração de talentos.
CFC - Por que é tão importante que a contabilidade brasileira esteja representada na Ifac? Qual a diferença que isso faz?
Idésio Coelho – No âmbito do mercado globalizado e no contexto da convergência que ocorre em todos os segmentos, é muito importante podermos discutir nossas experiências com representantes de outras nações e influenciar a produção de normas e regulações com as quais teremos de conviver. Entendo ser essa a principal motivação para a crescente participação brasileira nos organismos decisórios da International Federation of Accountants e em outros organismos internacionais.
Além disso, a convergência é indispensável. O Brasil não poderia ficar à margem de um padrão internacionalmente aceito numa atividade tão crucial quanto é a atividade contábil, pois isso seria um fator alienante para nossos profissionais e empresas brasileiras. Não havia como continuar “falando” um “idioma contábil” diferente do mundo. Por isso, foi um grande ganho a nossa adesão às normas internacionais de contabilidade, de auditoria independente e de contabilidade no setor público.
Em todo esse processo de avanço deve-se destacar o papel do CFC, que tem atuado com empenho e eficácia para que o Brasil alinhe-se ao melhor padrão da contabilidade global. O Ibracon, uma das entidades fundadoras da Ifac, trabalha ao lado do CFC e do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) na convergência e em todos os temas voltados ao desenvolvimento da contabilidade e da auditoria independente. É imenso o valor agregado dessa múltipla integração. No Brasil, várias leis e regulamentos já exigem a adoção das normas internacionais de contabilidade e auditoria, que são consideradas de elevada qualidade e livres de interesses políticos e setoriais.
Jamais poderíamos nos colocar em posição de passividade em um processo tão relevante. Num mundo globalizado, participar e influenciar os processos globais é imperativo para o desenvolvimento do país e da sociedade.
CFC - O Ibracon realizou, recentemente, uma pesquisa sobre o Novo Relatório do Auditor, adotado no Brasil, este ano, por meio de normatização emitida pelo Conselho Federal de Contabilidade e em conformidade com o modelo desenvolvido pelo International Auditing and Assurance Standards Board (IAASB). Quais foram as principais conclusões da pesquisa?
Idésio Coelho – O estudo inédito realizado pelo Ibracon focou na análise dos Principais Assuntos de Auditoria (PAAs), seção incluída no Novo Relatório do Auditor, que passou a ser emitido no Brasil a partir de 2017, sobre as demonstrações contábeis com exercício findo em 31 de dezembro de 2016, e considerada como a mudança mais relevante para as companhias listadas.
Os PAAs, aqueles que, no julgamento do auditor, foram os de maior importância na auditoria, foram avaliados considerando os relatórios de 546 companhias abertas, incluindo as 100 maiores listadas na bolsa de valores. O estudo identificou 1.329 PAAs (média de 2,43 por companhia), classificados em 23 diferentes tipos, a partir da estrutura de negócio de cada organização.
A análise dos PAAs apontou alguns aspectos relevantes: a linguagem está mais acessível e deve tornar mais eficiente a comunicação com investidores, credores e reguladores; a apresentação está mais detalhada; ficou enfático o foco do auditor em áreas com maior risco e subjetividade de análise; e sua atenção com a continuidade operacional do negócio.
Tais aspectos confirmaram a nossa expectativa de que o Novo Relatório do Auditor atenderia ao crescente anseio de usuários das demonstrações contábeis e da sociedade brasileira, por um ambiente de negócios com mais conformidade, objetividade e transparência. Trata-se de um avanço que corrobora o papel da atividade de auditoria independente no sentido de contribuir para a prevalência da ética e da lisura.
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